Das telas à vida real: o impacto do Product Placement em “My ID is Gangnam Beauty”

Beatrix Kondo
4 min readFeb 26, 2024

No cenário fértil e criativo dos K-Dramas, onde cada história é uma tela em branco esperando para ser pintada com as nuances da vida e da sociedade, encontramos um fenômeno cada vez mais comum: o Product Placement (PPL). Esta é uma prática em que marcas e produtos deveriam ser inseridos com sutileza na narrativa, muitas vezes como uma forma de financiar a produção ou aumentar a receita do drama. Mas, às vezes, esse PPL chega como um elefante na sala, chamando a atenção de forma tão óbvia que não dá para ignorar. “My ID is Gangnam Beauty”, um drama que mergulha nas águas profundas dos padrões de beleza e autoaceitação na sociedade coreana, não é exceção a (sofrer com) essa tendência.

No entanto, enquanto o PPL pode ser uma ferramenta útil para os produtores, ele também pode ser uma faca de dois gumes. Em um drama que se esforça para transmitir mensagens importantes sobre autoestima e identidade, como “My ID is Gangnam Beauty”, a inclusão de produtos pode ser delicada. Quando não feita com cuidado, pode comprometer a integridade da narrativa e diluir as mensagens importantes que o drama tenta comunicar…

… a mensagem com elementos mais profundos, algo que transcende a superfície e mergulha nas águas turvas da psique humana, a beleza que não se vê, a essência que se esconde nas sombras, esperando para ser descoberta. Em meio a um turbilhão de pressões e padrões sociais, encontramos a protagonista, Kang Mi-rae, em uma jornada de autoaceitação que nos leva por caminhos complexos, enfrentando os desafios impostos pela sociedade enquanto tenta encontrar sua própria identidade.

Eis que, como uma tempestade inesperada, o PPL irrompe na narrativa, às vezes de forma desajeitada, interrompendo a imersão do espectador na história. Um exemplo claro disso é quando Mi-rae e sua melhor amiga, Hyun Soo-a, são vistas promovendo um chá como solução para manter o peso. Enquanto a série tenta nos mostrar a jornada de Mi-rae em busca de autoaceitação, esses momentos de PPL parecem deslocados e artificiais.

E não podemos deixar de mencionar a personagem antagonista, Hyun Soo-a, que secretamente luta contra a bulimia e é frequentemente mostrada tomando pílulas dietéticas. Embora isso possa ser interpretado como uma crítica à pressão social para alcançar os padrões de beleza irreais, a maneira como esses produtos são retratados, com embalagens fofas e chamativas, muitas vezes parece glorificar comportamentos prejudiciais à saúde.

No entanto, nem tudo está perdido. “My ID is Gangnam Beauty” também acerta em algumas áreas, como na abordagem do perfume. Aí sim, vemos a protagonista se envolvendo com a arte da perfumaria, uma jornada que vai além da superfície e mergulha nas camadas mais profundas da identidade e autoexpressão. Esta é uma maneira inteligente e requintada de integrar produtos à narrativa, adicionando uma dimensão extra ao enredo sem comprometer sua integridade.

“Creio que somos abençoados por podemos amar essa beleza intangível chamada aroma.” — Na Hye-sung

Além de adicionar um toque de sofisticação à trama, o perfume representa uma beleza mais sutil, uma essência que vai além do que se vê. E a protagonista querendo ser perfumista? Genial. Era como se ela estivesse buscando sua própria identidade através das fragrâncias, uma jornada de autoconhecimento embalada por notas de flores e especiarias.

Em última análise, “My ID is Gangnam Beauty” nos lembra que o PPL pode ser uma ferramenta poderosa quando usado com inteligência e sensibilidade. Quando bem integrado à história, pode enriquecer a experiência do espectador e adicionar uma camada adicional de realismo e autenticidade à narrativa. No entanto, quando usado de forma descuidada ou excessiva, pode comprometer a integridade da história e minar as mensagens importantes que o drama tenta transmitir.

No fim das contas, “My ID is Gangnam Beauty” nos ensinou uma lição valiosa sobre a importância de sermos autênticos e aceitarmos quem somos, independentemente dos padrões impostos pela sociedade. E, apesar dos tropeços com o Product Placement, a série ainda conseguiu deixar sua marca como uma obra que nos faz refletir sobre o verdadeiro significado da beleza e da autoconfiança.

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